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47 - O TEATRO DE MARIEH - AO ESPETÁCULO

Atualizado: 26 de fev. de 2023

Anoriah, o meta-humano, está ali assistindo à peça. Discreto, em um canto escuro e alto, flutuando, onde ninguém deveria direcionar o olhar para identifica-lo.


A peça avança para o terceiro ato. Os dois primeiros, respectivamente, versavam sobre a fuga de Nemansky e a criação da Tribo pelas primeiras quatro casas fundadoras: os Nasir, os Selemor, os Nabor e os Vandor.


Até este ponto, todos os teatros de aniversário, de todos os anos, contavam essa mesma história de modo diferente, com cada autor acrescentando uma interpretação pessoal de acordo com sua visão já formada pelas narrativas de outros que contaram antes essa mesma história. E a cada ano, as lendas dos fundadores e de Insag eram reforçadas pelos contadores de história e autores de peças. As memórias acumuladas eram recontadas e ressignificadas com maior compromisso com a poética do que com a verdade que, a esta altura dos tempos, já não interessava tanto quanto o conforto de uma boa lenda bem contada. Ninguém queria o trauma da verdade, queria o conforto da poesia.


A menina Marieh, em sua versão, deu mais foco ao sentido igualitário da organização social de Insag. Todos são iguais, apesar de cada um ter suas singularidades e suas funções bem definidas. Tudo dito com palavras e formas de apresentar quase que hipnóticas.


O palco é a roda central, que fica livre para as encenações, limitado por uma linha circular imaginária cujas 14 torres eram a referência para o público não ultrapassar. A iluminação é especial. Os adereços, figurino, música e efeitos visuais fazem daquele teatro um grande espetáculo de cores, formas, palavras e sons que dão força às mensagens.


O terceiro ato é reservado à espiritualidade. É, a princípio, uma homenagem aos ancestrais, que regiam os destinos juntos com os elementais da terra, do ar e do rio.


O Texto 1 do Ato 3 do teatro de Marieh foi escrito e ensaiado de última hora, depois da morte de Agnar.


Os antigos ancestrais, liderados por Josah, recebem o espírito de Agnar numa grande apoteose. Ela chega dos céus, pendurada por cordas invisíveis aos olhos, e aterriza nos braços dos ancestrais, que se aglomeram para recebê-la e erguer seu corpo o mais alto que podem. As pessoas a saúdam e se emocionam conforme desfila seguindo o círculo do palco, erguida pelos ancestrais.


Anoriah fica maravilhado. Mas esperava ali alguma mensagem, algo relevante que algum ator falasse, de acordo com o que Veothar tinha pedido a ele.


O teatro de Marieh deixa a noite para trás e avança na profunda madrugada, próximo ao alvorecer. E parece chegar ao ápice naquele momento triunfante em que todos se regozijam com a ideia de que Agnar está viva entre os ancestrais. Por mais que seja uma narrativa teatral, aquilo dá o contraponto reconfortante frente a grande tristeza que todos ali viveram há apenas alguns dias.


O meta-humano já julga suficiente o que viu até agora e inicia um gesto corporal de vôo que iria culminar com sua retirada do local em direção ao veículo deixado em estado estacionário há cerca de 10 quilômetros daquele local, em meio a floresta. Mas o sussurro de uma voz jovem estanca seu movimento: “Anoriah”. Ao olhar para baixo, Marieh o encara, de um ponto de escuridão entre as árvores onde ninguém também poderia encontrá-la e estende a mão a ele.


Ele percebe, ainda, que a peça não acabou.


 

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